top of page

Porque  Eu??!

  Por Carla Oliveira

 

Quem nunca fez essa pergunta diante de alguma situação?!

Fica mil vezes pior, mais lamentativa e chorosa quando quem faz essa pergunta é alguém que acaba de descobrir uma doença autoimune e limitante quanto à esclerose múltipla.

Porque eu???  Quantas e quantas vezes me fiz essa pergunta. Sou tão ruim assim?  Porque comigo??

E assim alguns dias se passaram, me vitimizando e perguntando.. Até que um dia li em algum lugar:

“Porque não eu???? O que tenho de tão especial, de tão único e maravilhoso que nada de ruim possa acontecer comigo??!... Com o outro tudo bem, mas não comigo..”

Oiiii??!....Como assim, com o outro pode????!

Nãoooo!! Não tá nada bem... Lóoooogico que quem me conhece sabe o quanto eu sou maravilhosa e única...kkkkkkkkk...(gente me acho!).  Mas também não sou tãooo especial assim pra que eu seja a única pessoa no mundo que não possa sofrer um pouco, nem que nenhuma doença me acometa.. Sou tão normal quanto você, ela, como eles ....

Porque não eu, então??!

Meu pai que, sofreu bastante com sua doença, nunca se lamentou. Passava seus dia com dores e com esperanças mínimas falando que “a cada um Deus dá a cruz que se consegue carregar”. Porque ele pôde ter uma doença, sofrer.. e eu não?!

Para tudo!! Borá lá carregar a minha..

Te falo que de certa forma tem sido até prazeroso. Lóoogico que não sempre! Ter uma doença não te dá nenhum prazer. Mas poder dar uma palavra de ânimo a um recém-diagnosticado, trabalhar e quebrar a cabeça pra encontrar um jeito de trazer mais divulgação e conscientização, pra que o pré-conceito caia por terra, tem sido muitoooo gratificante. Nisso sim está o prazer. A enfermagem é a arte do cuidar, e hoje mais do que nunca me sinto exercendo-a plenamente.

Àqueles que ainda se fazem essa pergunta, porque eu?!,  te convido a olhar para os outros, dentro da sua casa mesmo ou pra familiares e amigos e responda : Porque eles podem e você não?

Garanto que sua visão mudará e sua atitude também.

Nesse caminho de EM, o que mais vejo são superações, garra, alegria e muita vontade de fazer. Tem a parte difícil sim, mas todos os que encontro e vejo que passado o desespero inicial e os momentos de surtos, estão vivendo suas vidas da melhor maneira possível, com limitações ou não, seguem fazendo o que mais os fazem felizes..Vivem!!

Não sou mais a mesma pessoa... Não tem como ser... E não falo por limitações, falo porque após se ter um diagnóstico de algo que não tem cura, passei a olhar a vida, as pessoas e os problemas de outra forma. Aprendi a enxergar o AMOR de maneira mais simples!Valorizar cada momento por menor que seja, desvalorizar os problemas.. Olho pra meus amigos e familiares e enxergo o quão importante são pra mim, e o quanto nos amamos, o quanto cada cervejinha e conversas jogadas foras são essenciais (mesmo quando eu tô  tomando  a 0%..rsrsrs).. O quanto o almoço em família te acaricia.

Diz a Música: “A gente não pode ter tudo, qual seria a graça do mundo se fosse assim?!”

Mas não é a mais pura verdade?!

 Seja feliz com tudo que você pode hoje... Não espere que a vida te mostre que é preciso parar pra aprecia-la.

 Amanhã é outro dia!Comece já!! Vida que segue sempre...

 

Obs: Terminando esse texto me vem a cabeça a música que meu pai estava aprendendo no violão, de Geraldo Vandré: Pra não dizer que não falei das flores. Essa música fala da ditadura, mas toda a poesia dela me leva a nunca desistir ou aguardar cair do céu.

 

“Vem vamos embora que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora não espera acontecer...”

“Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição..”

 

Não espere, faça acontecer!!

Carla Oliveira

Carla, 38 anos, mãe de dois filhos lindos e esposa de um barbudo bravo mas meu companheiro

Técnica de enfermagem e que nas horas vagas adora curtir a vida

bottom of page